quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vencer o cancro

Não! Não deixarei meus sonhos fugir num rio de lágrimas nascido em mim.
Não deixarei que as sombras me embaciem o olhar, me falem do fim.
Não deixarei cair meus braços! Levantarei meu rosto e, bem alto, gritarei: Eu, estou aqui!
Quero cantar e rir, dançar, lutar e sorrir e nada me irá derrubar.
E se a terra me quiser para si, minhas raízes serão asas voando para um futuro feito por mim,
 por mim, dia a dia conquistado.
Não aceito este fado, triste e cansado, de quem desistiu de lutar.
Não! não terei saudades de quem fui, ou de quem serei. Hei de ser Eu aqui e agora, apenas eu e isso me basta.
Não quero esta revolta que me gasta e não me deixa sonhar.
Quero ser livre, acreditar…
Não! não deixarei que as lágrimas me imponham tardes de outono,
noite dentro chorando, roubando-me a paz e o sono.
Quero ver, em cada lágrima, o brilho intenso de um sol de verão
Criado para mim, nascido para todos nós.
E se os soluços quiserem ser minha voz, que sejam, mas serão canção de esperança, promessa de luz na escuridão.
Quero ser de novo criança, dar laços e abraços, escolher meus passos, erguer-me do chão.
Não! Não viverei cada dia como se fosse o último. Nascerei de novo a cada amanhecer.
E se a dor me impedir de levantar, não importa. Sentada, cantarei a alegria viver.
Estou perdida? Sim.
Mutilada? Também.
Mutilada… mas inteira. Toda sou, toda me sinto, toda serei,
E a nada, a ninguém sucumbirei!
Frágil, dorida, perdida… de mãos dadas com a vida, hei-de rir da morte e crescerei. Sim, crescerei!
E se a voz me fugir, se o cabelo cair...
Se me for mais fácil desistir,
Ainda assim gritarei:
Não! Eu?
Eu viverei!
Olinda Ribeiro