terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cega, e é Natal.

Vieste Senhor de mansinho
Vieste com o vento e com o tempo.
Ao cair da noite, frágil, pequenino,
Vieste Senhor.
Como brisa fresca entre as árvores da floresta
Como vulcão impetuoso descendo a montanha
Regato marcando caminho
Melodia suave trazida pelo vento
Vieste Senhor,
De mansinho.
Pobre, frágil, todo poderoso
Água e Fogo,
Crepúsculo e luz,
Menino e Deus,
Serenidade e força,
Humilde realeza,
Fizeste rainha a pobreza.
Manhã e tarde,
Presente, passado e futuro,
Princípio e fim,
Grito no silêncio que grita em mim.
Vieste Senhor
Emudecer os canhões e dar sentido às palavras e aos caminhos
Vieste para os ricos e os pobres,
Para os líderes das multidões e para os que vivem sozinhos,
Chegaste Senhor e eu não senti,
Tocaram tambores
Clamaram profetas…
Tão profunda surdez, eu não Te ouvi…
Procuras-me tão longe, filho!
Esse aí ao teu lado. Sim, esse aí! E aquele outro mal vestido, pobre, doente, desempregado… Esse outro vítima de violência e maus tratos, o pai que tudo faz para alimentar os seus filhos, o idoso no asilo, a criança rejeitada ainda antes de nascer… Sim, sou eu filho, estou aqui!
Olinda Ribeiro

Nasceu!

Nasceu. Sozinho na noite.
Pobre, nas palhas chorando.
Voltou a nascer porque os homens ainda não viram
Na criança indefesa,
A força de Deus.

Nasceu. Na escuridão de uma gruta,
No frio da noite, à luz das estrelas.
Voltou a nascer porque os homens ainda não viram
Na noite de Belém
O novo dia para a humanidade.

Nasceu. E o choro de Deus-criança
Foi canção que o vento entoou.
Voltou a nascer porque a humanidade
Não ouviu no choro da noite
A resposta de Deus às lágrimas dos homens.

Nasceu. Longe da cidade.
Apenas os humildes, os pobres e os sábios de longe
O foram visitar.
Voltou a nascer
Para que os cegos vejam
Os surdos ouçam
E a humanidade perdida
Não desista de O encontrar.
Olinda Ribeiro

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

«Natal de porta aberta»

Abre a porta meu irmão, é Deus que bate.
O Deus descalço nas pedras da rua
O Deus nascido à sombra da lua
De mãos feridas, calejadas,
Desprezadas, estendidas
Mendigando por Deus, trabalho e pão.
Abre os ouvidos irmão.
É Deus que chora no lamento do vizinho
Que busca no horizonte vazio
O futuro há muito perdido
E ouvindo o som do sino,
De um pai natal sem sentido,
Saudoso do Deus Menino,
Vai vivendo e morrendo
Esquecido,
Sozinho.
Abre a tua porta irmão
É o Deus vadio, que chega, passado de mão em mão
O Deus de Isaac, de Jacob, de Abraão
O Deus de José e de Maria
O meu e o teu Deus, meu irmão.
Abre, irmão
É Deus peregrino
Que se faz pobre, menino
Nas palhas, tão pequenino…
É Deus que nasce na esperança,
No sorriso da criança
Que segue o pai confiante.
É Deus que não quer saber
Se és ou não importante.
Só quer esperar com amor
Que o queiras acolher
No calor do coração.
Abre a porta meu irmão
Afasta a noite, desperta
e faz da tua vida
Um Natal de porta aberta.
Abre os olhos meu irmão
É Natal, Deus está aí
sentado à tua porta
Sem pressa,
Esperando por ti.
Olinda Ribeiro

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Consolai o meu povo

Consolai o meu povo, consolai.
Do meu povo que sofre, sede esperança, alegrai.
Do meu povo faminto, sede alimento, alimentai.
Consolai o meu povo, consolai
O meu povo que morre e que mata,
De quem a vida se esquece e maltrata.
Consolai.
Do meu povo perdido, sede luz, guiai.
Do meu povo esquecido, sede presença, visitai.
Consolai o meu povo, consolai,
Preparai o caminho.

Consolai o meu povo que vive adormecido,
enquanto o meu Filho nasce e a Páscoa acontece.
Uma grande luz rasga a noite no deserto
E um novo dia amanhece.
Consolai o meu povo, consolai.
Sede minhas mãos para acolher e abençoar.
Sede minha boca para bendizer e anunciar, ao meu povo que sofre,
O meu reino de amor.
Sede, por mim, e eu vos prepararei um lugar.
Sereis o meu povo, minhas ovelhas
Perdidos vos hei de encontrar
Sereis o meu povo amado
Eu serei vosso cajado, o Bom pastor.
Olinda Ribeiro