quarta-feira, 18 de abril de 2012

Como Tomé


















Fechei as portas do meu coração
E deixei de fora, chorando, perdido, o meu irmão.
Construí muralhas em meu redor
E ignorei o lamento de quem sofre votado ao esquecimento
Sem paz, sem pão, sem amor.
São tantos Senhor, os que sofrem,
São tantas as vozes, as mãos,
São tantas as fomes,
Tantas Senhor, e eu tive medo
E em segredo, lhes fechei meu coração.
De fora, deixei a missão, minha fé,
Lá fora, tu nos meus irmãos.
Tu que és minha força, meu rochedo
Meu cajado e meu caminho
Assim de portas fechadas me encontras transida de medo
Perdida eu, sozinha.
Aqui estou, me dizes,  vê, toca os meus cravos.
Sou eu, vim para ficar contigo.
Meu Senhor e meu Deus, Meu Jesus, meu amigo.
Permite que este fogo do Espírito que me dás  e se apodera de mim
Aqueça cada minuto dos meus dias,
Preencha o meu coração.
Então estarei na tua paz e, como Tomé, prostrada, te direi: Meu Deus eu creio em ti, eu te adoro, em ti espero.
Doravante deixarei escancarado o meu coração, falarei a tua língua, cantarei a mais linda canção em teu louvor.
Vem comigo meu Jesus e levaremos ao mundo a paz e o perdão.
Meu Jesus, meu Deus e meu Senhor!
Olinda Ribeiro

Pai nosso...


Louvado sejas meu Senhor que tão bem me conheces…
Ainda a palavra não chegou à minha boca e já tu a proferias.
Querido pai que tanto me amas…
Só um amor infinito levaria o meu Deus omnipotente a inclinar-se sobre mim e a transportar ao colo a minha pequenez.
Que eu saiba, pai querido, ser tua luz quando à minha volta a noite teimar em cair.
Que as minhas mãos espalhem a tua paz.
Que os meus lábios falem a tua verdade.
Que o meu coração procure a justiça e todo o meu ser espalhe o teu amor. Assim farei a tua vontade.
Eu te peço, pai, que eu saiba sempre ver-te como «nosso pai» e não «meu», só meu, como tantas vezes egoisticamente te vejo.
Dá-nos Senhor o pão que sabes que precisamos e não o que pensamos precisar.
Tu que és o Senhor da verdade, ilumina o meu coração de modo que o essencial seja o bastante para mim e tudo o mais pertencerá aos meus irmãos.
Tu és, Senhor, pai misericordioso, a tua bondade enche o universo e por isso me atrevo a pedir-te: «perdoa as minhas ofensas», e confio que o farás.
Ao longe te vejo correndo para mim, a meio do caminho, de braços estendidos num abraço de pai. Filha pródiga te peço: «não sou digna de ser chamada tua filha».
Não deixes, Senhor, que me afaste de ti. Porque me deste a liberdade de fugir? De me perder? Como seria bom estar sempre no teu colo de pai!...
Não deixes Senhor que a tentação me vença e, por tua bondade, derrama sobre mim a força do teu Espírito.
Olinda Ribeiro

Eu acredito!


Ainda que a noite persista e tolde o meu olhar
Eu acredito na força da luz na gota de orvalho, a cintilar.
Ainda que a terra se abra sedenta de vida
Eu acredito na nascente crescendo destemida, ávida de mar.
Ainda que o trigo no chão pareça sumir
Eu acredito na mão que lança a semente, promessa de vida a surgir.
Ainda que os gritos me impeçam de escutar
O riso, o silêncio, o vento a sussurrar
Eu acredito na melodia, no silêncio escondida
Na poesia em nós adormecida, que nos fará acordar
E cantar harmonias novas em horizontes renovados,
Novos hinos, outros fados,
Que cantem apenas o amor, a alegria de viver e partilhar.
Ainda que os punhos se cerrem e os braços pareçam caídos
Eu acredito nas mãos que se estendem,
Dos que não se dão por vencidos
E dão vida e cor às vidas dos mais frágeis e esquecidos.
Eu acredito nos pés que se desprendem do chão e saem de si
Eu acredito em mim, em ti,
Que podemos fazer a diferença
E banir a solidão.
Eu acredito que podemos ser chão seguro
e mudar a existência
de quem não vê o futuro, imerso na escuridão.
Eu acredito na gota de água, na semente,
No sorriso, no abraço, no gesto de bondade.
Eu acredito na gente, luz no escuro da gente
Que no silêncio pede amor, mais dignidade.
Eu acredito que tudo é possível se fizermos estrada,
Lado a lado, rumo à igualdade.            
Eu acredito em mim e em ti,
Que podemos ser morada
da força da humanidade.
Olinda Ribeiro