domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma história para crianças (ou não)




Era uma vez um Rei muito rico e poderoso que podia fazer tudo o que quisesse. Tudo o que desejava tornava-se realidade.
Um dia este Rei decidiu que iria começar um reino desde o início. Queria escolher as terras e os rios que as haviam de regar, as pessoas que nele habitariam, uma a uma desenhadas e escolhidas por si.
Começou por criar os dias e as noites, os rios e os mares, as terras e as plantas, todos os animais da terra, os peixes e as aves. Grandes e pequenos, de todas as formas e cores. Todos criados pela mão e o coração do seu Rei. No dia em que criou as crianças o Rei não cabia em si de contente. Vê-las a rir e a brincar era tão maravilhoso que não resistiu a disfarçar-se de criança e correr descalço com elas chapinhando na lama, jogar às escondidas e rir-se até lhe doerem as bochechas. O rei gostou tanto de brincar com as crianças que há quem diga que se estivermos atentos conseguimos descobri-lo muitas vezes disfarçado numa delas. Era tão bom brincar que quase chegou a desejar que a noite nunca chegasse. Mas… e as estrelas? Que seria do brilho das estrelas, a quem serviria a luz prateada do luar se não houvesse a noite? Então o rei semeou estrelas no céu para iluminar os sonhos dos meninos e os caminhos dos homens.
Neste reino, criado com amor, tudo era perfeito, tudo era de todos, todos cuidavam uns dos outros e o rei sentia-se muito feliz.
Mas um dia um dos homens decidiu que todas as terras até onde a sua vista chegasse haviam de ser suas, pois achava-se mais forte e melhor do que todos os outros. Então construiu muros altos à volta das suas terras e lé viveu e morreu sem que mais ninguém o visse. Pouco depois outros homens seguiram-lhe o exemplo e em pouco tempo havia tantos muros que as flores deixaram de receber o sol e começaram a murchar, os pássaros não conseguiam voar por cima dos altos muros e deixaram de cantar.
As terras sem dono eram já tão poucas que os homens lutavam entre si para as conquistar. Já não se ouviam os risos das crianças nem as canções de embalar nas vozes das mães que ajudavam os sonhos a chegar.
O Rei ficou triste e chorou. Chegou a pensar em desistir deste reino e começar tudo de novo noutro lugar, mas lembrou-se da alegria das crianças e tomou uma decisão:
- «Vou até junto dos homens. Irei dizer-lhes para destruírem os muros, para darem as mãos uns aos outros, para repartirem entre todos, tudo o que lhes dei, para aprenderem a viver como as crianças.»
E o rei correu todo o reino a falar, enviou mensageiros em todos os tempos, a todos os lugares, mas os homens não o ouviram. Então pensou:
- «Talvez não tenham percebido bem as palavras que lhes disse ou talvez não saibam como fazer para voltarem a viver no reino como o criei. Vou mostrar-lhes como fazer».
Então o rei tornou-se um deles e viveu amando tudo e todos, ensinando a perdoar, e gastando a sua vida no serviço aos outros. Esta forma de vida foi cativando muitas pessoas que o seguiam para o ouvir. Sabem, acho que algumas crianças o reconheciam porque muitas corriam para ele assim que o sentiam ao longe. Eram tantas que um dia os que o seguiam não queriam que elas se aproximassem do rei e empurravam-nas, mas Ele disse-lhes: Deixai-as vir até mim, pois é delas o meu reino. Quem não for como elas não poderá entrar no meu reino.
Os homens não percebiam muito bem o que ele dizia. E alguns chegavam mesmo a zangar-se com ele. Outros reconheceram nele o rei e exultavam por pensarem que veio para destruir os mais poderosos e sentar-se em todos os tronos que os homens tinham criado.
O Rei ficava triste e chorava porque os homens não entendiam que só era preciso aprender com as crianças e tudo seria perfeito de novo.
Um dia, alguns homens muito maus, com medo que este rei os viesse destronar, foram ao seu encontro e mataram-no, como de um ladrão ou um malfeitor se tratasse. Mas este rei, com um amor infinito pela obra da Criação, triunfou sobre a morte e ofereceu a todos os seus súbditos uma vida nova de luz e de paz. Sentou-se de novo no trono, junto do pai, mas sempre que o dia nasce ou a noite cai, se estivermos atentos havemos de encontrá-lo na mãe que embala o berço, na brisa que acaricia, no profeta que o anuncia, na criança que se deixa conduzir, no pobre que sorri, na luz, no caminho….
Os homens estragaram, sujaram, ergueram muros, fizeram guerras, mas este é um reino tão querido pelo seu rei que não desiste dele e todos os dias o percorre de uma ponta a outra à procura de quem o queira ajudar a restaurar o reino perfeito que sonhou e criou para o seu povo.
Se um dia vires alguém sorrindo de braços abertos para acolher uma criança, é ele, o Rei que te quer acolher no seu reino. Faz-te criança, dá-lhe o teu coração e viverás feliz para sempre.
Olinda Ribeiro

Sem comentários:

Enviar um comentário